MINUTOS COM O SAPO DÓRIA
(conselhos de um sapo filósofo)
(Once upon the time...)
Havia um grande sapo que vivia na lagoa. Vivia a filosofar na lagoa dia após dia, tarde após tarde, mosca após mosca, tendo apenas os outros bichos da floresta para interagir com seus conselhos e descobertas após anos de sol e lua e companhia certa de uma Vitória-Régia qualquer.
Entre um e outro ataque de sua língua gosmenta a este ou aquele inseto, ficava a devanear sobre as dúvidas essenciais inerentes à humanidade, e vez ou outra questionava o que fazia ele naquele corpo de anuro a coaxar, se era dotado de intelecto, mas quase sempre acabara por concluir que a mesma dúvida talvez incidisse sobre os seres humanos, ou seja, o que faziam os homens e mulheres em corpos humanos se eram verdadeiros animais primitivos? E logo confortava-se em estar naquele lugar, mesmo com suas dúvidas cartesianas em meio às taboas do brejo.
É claro, muitos animais tinham por ele respeito tamanho, e era comum vê-lo a dar conselhos como se em verdadeira terapia, com seus ensinamentos freudianos e dorianos.
Segundo sua linha própria de raciocínio, gostava de comparar os animais e seus acontecimentos com acontecimentos típicos de seres humanos, mostrando onde estes viviam a errar nos atos mais corriqueiros do dia-a-dia, e desta feita tecia verdadeiro tratado de como os animais deviam conviver entre si, para nunca chegarem ao ponto “evolutivo” que a raça humana havia chegado.
Em tempo, suas teorias sobre evolução eram apocalípticas, ou seja, mostravam que a evolução das espécies, principalmente a humana, tinham como ponto final sempre o extermínio da mesma, e ilustrava com exemplos e sinais todos esses ensinamentos.
Tinha um senso de convencimento como poucos, diria até shakesperiano, sendo persuasivo até aos animais de instintos mais apurados. Diziam, à miúde, na floresta, que “não havia problema que o Sapo Dória não resolvesse, e que haviam conselhos outros que as vezes não deviam ser de todo seguidos”. Conjecturavam ainda sobre um possível entorpecimento do sapiente Sapo Dória, que é como ela gostava de ser chamado, através de uma certa plantinha que ele costumava valer-se sempre aos finais de tarde, acompanhado de uma grande e vistosa varejeira verde, mais isso ninguém nunca provara, e, trocadilhos à parte, quem dizia isso também sequer houvera provado do gosto e torpeza destes ingredientes.
Havia um grande sapo que vivia na lagoa. Vivia a filosofar na lagoa tarde após tarde, noite após noite, mosca após mosca, e isso é tudo que se sabe sobre este oráculo da floresta, que levava a graça de Sapo Dória, e o que mais se falar sobre ele é tudo especulação, e, ademais, seus conselhos. Até hoje não se sabe ao certo quais informações são uma, quais são os outros.
E, como ele próprio profetizava em “mantra” sagrado: “Todo grande sapo pensador é o estúpido anuro de um outro tolo qualquer”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário