quarta-feira, outubro 26, 2011

BOEMIA

Nacredito, parem o mundo que eu quero descer, e olha que eu nem peguei o bonde andando, mas sentei na “janelinha”.

Aprendi, se é que isso se aprende, como se fosse algo à ser ensinado como em sala de aula, a ser boêmio num destes dias da vida, e toda aquela curiosidade que as pessoas tem do “porquê” tomar cerveja mesmo sabendo que ela é amarga e depois a gente não para de ir ao banheiro. Mesmo sendo ainda um tanto quanto jovem, e totalmente despreocupado com as letras, eu já seguia os caminhos dantes trilhados por escritores, músicos e poetas, antecipando a boemia à maquina de escrever (sim, naquela época nem tinha o tal do computador), como se colocasse a carroça na frente dos burros.

Em sendo assim, logo entendi os fundamentos e princípios da boemia, tal qual o maior de todos: conversa em mesa de bar nunca deve ter função, sequer objetivo claro. Ela nunca é totalmente negada, nem absolutamente concordada, afinal todo mundo sempre entende um pouco de tudo nestas horas, e principalmente, tais comentários nunca devem ser definitivos, assim como aquela porçãozinha de mandioca acompanhada da saideira.

Conversa de mesa, segundo o estatuto da boemia, pode versar sobre qualquer assunto, as opiniões podem ser diversas, os times diferentes, mas o que importa mesmo é que possamos exercer sempre essa vocação, e que os assuntos discutidos nunca cheguem a ser resolvidos. Mas a conversa tem que ser da melhor qualidade, senão o chope fica aguado, a fritas murcha, o amendoim salgado demais, e, nacredito, a conta parece mais alta que devia.

Já vi de tudo e mais um pouco nestas noites de boemia. Vi bêbedos (que é totalmente diferente de boêmio) desempregados em pleno dia de semana, muitas vezes até com o sol à pique; apaixonados amarrando as mágoas, e mal conseguindo amarrar o próprio sapato; idealistas e tantos outros sonhadores, escritores, poetas e tantos outros patetas; ouvi por inúmeras vezes que eu “era considerado” de alguém que puxara a cadeira pra sentar e nem me conhecia, e de tantos outros que achei que ao menos conhecia um pouco e muito me decepcionei. Tive amores, tive dores, houve épocas em que eu funcionava melhor à noite, e noutras, nacredito, sequer via o dia alvorecer.

De certo mesmo que a boemia é um estado de espírito, e, diferentemente do que se imagina por aí ou se diz em “bocas-de-matildes”, deve ser levada à sério, tem toda aquela mística de encontrar os amigos, colocar a conversa em dia, fazer um pouco de intriga da vida dos outros (afinal homem e gente de bem não faz fofoca, e sim “intriga da vida alheia”), falar de algumas realizações, outros fracassos ou sentar pra ver o mar ou a chuva sozinho, e pra tornar tudo isso mais prazeroso a gente aproveita e entorna um ou outro gole, belisca um tremoço ou simplesmente vê o mulheril passar.

Dizia uma música, ao falar da boemia, e existem tantas outras, assim como os livros que compõem as vastas bibliotecas, que o “preto” bebe porque gosta, e o “branco” porque aprecia, e entre gostar e apreciar, sinceramente, muitos de nós acabamos bebendo simplesmente porque é líquido, e, ademais, “fi-lo porque qui-lo”, como já dizia desde antes da ditadura o finado Jânio Quadros. Ah, e só pra não perder a piada, já que falávamos do tal do Jânio, “..., “bebo que é líquido, porque se fosse sólido eu comê-lo-ia”, hehehe, nacredito.

E só pra terminar, já que falávamos em boemia, lembro um desejo, destes feitos em mesa de jantar, copos na mão e brinde entre os amigos, do filme “Troia”, desejando a todos “Que os Deuses mantenham os lobos nas colinas e as mulheres em nossas camas”. Estão vendo, a boemia alem de tudo é fraternal, de desejos de bom grado àqueles que nos aquecem o peito, e preferem sempre a loira mais gelada do canto do freezer.

Ok, ok, só pra não perder o costume, enquanto gela a cerveja, e frita a polentinha: “que nossos filhos tenham os pais ricos e as mães cuidadosas”.

Saúde, paz, amor e harmonia

terça-feira, outubro 25, 2011

MINHA (NADA) GRANDE PACIÊNCIA

DIA DE SOL INTENSO

Na fila do banco, depois de uma audiência sem precedentes, a excelentíssima estava impossível. Duas e meia da tarde, segunda feira brava, o sol brilhando contente, e intenso como o calor de suar à sombra.

- Que calor não?

- É.

- Chega a ser desagradável não? Molha até o cabelo na testa, embaça o óculos...

- Pois é

- Em dias destes dá vontade de estar na praia, tomando caipirinha ou dormindo com o ar-condicionado ligado...

- É.

- Um amigo já dizia “companheiro, calor só é bom na beira mar”, e nós aqui!

- Pois é.

- Já vi tudo, essa fila não anda mesmo, vamos ficar aqui mais uma hora, tempo o bastante pra gente conversar...

- É.

Agora a mesma conversa, como eu realmente gostaria de ter respondido naquele dia de poucos amigos, e muito calor:

- Que calor não?

- Nacredito, acha mesmo? Nem tinha “botado reparo!”. Jura?

- Juro sim...

- Valeu por me avisar, não fosse você mal tinha notado...

- De nada. Chega a ser desagradável não? Molha até o cabelo na testa, embaça o óculos...

- Ta brincando né, a gente sua no calor? Nem percebi, estou de terno porque lí numa revista que as mulheres adoram homem de terno...

- Verdade, que revista? Em dias destes dá vontade de estar na praia, tomando caipirinha ou dormindo com o ar-condicionado ligado...

- Dá sim, todo dia, toda noite, faça chuva ou faça sol.

- Legal. Um amigo já dizia “companheiro, calor só é bom na beira mar”, e nós aqui!

- E você ouve muito esse seu amigo?

- Há tempos não, brigamos.

- Nacredito, já imaginava, por isso puxa conversa com qualquer um na fila. Na certa ele disse que você vai acabar pobre e sozinho!

- Hehe, nisso ele errou. Sozinho não, essa fila não anda mesmo, vamos ficar aqui mais uma hora, tempo o bastante pra gente conversar...

- Que pena, eu parei aqui só pra fazer uma horinha, não tenho conta neste banco, to indo embora. Passar bem.

terça-feira, outubro 04, 2011

COMO NOSSOS FILHOS

Nacredito, parem o mundo que eu quero descer, e olha que eu nem peguei o bonde andando, e já que sentei na “janelinha”, peço ademais licença poética.

Nem quero lhes falar, queridos filhos, das (mesmas e tolas) coisas que sempre aprendemos, e aprenderão na rua. Agora, sem maiores intenções, quero apenas e tão somente lhes contar como vivemos e todas suas conseqüências. Querer viver tudo aquilo que sonhamos (pode) nem sempre ser, ou trazer lembrança de que o amor é em seu todo uma coisa boa.

Entretanto algum pranto que verter é sinal de amor sincero, enquanto o choro demasiado e insosso, é sinal do fraco espírito, já dizia Shakespeare. Assim, cuidado neném, nem sempre há apenas perigos na esquina. Lembrem-se que nem todos venceram naquele final que julgamos estar escrito pra nós, hoje não tão jovens quanto vocês logo o serão. Um conselho? Vá agora abraçar seu irmão, seja ou não de sangue, e beijar sua mãe, ainda que ela viva apenas na lembrança de seus dias e noites de saudade eterna. Ela que te carregou no braço e seu lábio não tinha pra ti apenas a voz..., tinha um beijo escondido no canto da boca, aquele mesmo já revelado por J.M. Barrie (in Peter Pan).

E se me perguntam “és possível em ti a paixão?” Revelo, deveras, que vivo encantado com minha nova “razão”. Vou sempre nutrir felicidade simplesmente apertando sua mão, que dizer então de compartilhar os seus dias? Pois senti no seu leito o verdadeiro gosto da satisfação e contemplação em olhar pra você... Embora não me esqueci da ferida da vida, ainda viva, aqui no meu coração...

Nacredito, e já faz tempo eu andei e também aprendi na rua, “cabeça de vento” e junto a gente que não se renova, mas sempre reunida. E das muralhas daquilo que construímos, hoje restam apenas ruínas de nossos dias, e ainda, é o que mais nos dói.

Minha esperança agora é descobrir, e te ensinar, que apesar de tudo que fizemos, já não somos os mesmos, e que crescemos..., nos já não somos os mesmos, e crescemos sob o amor de nossos pais.

Talvez nossos ídolos nunca sejam os mesmos, e na aparência ou temperamento pouco lembre seu pai, hoje mais “turrão”. Mas nunca diga que depois deles você não amou mais ninguém!

Pra quem pode até dizer que o amor demora, lembre-se que a velocidade é passado, e a demora é rito que nos inicia nas coisas boas. Ou caso fique se lamentando, ou mesmo, ame demasiadamente o passado, essas pessoas nem sempre vêm que algo novo a vida sempre nos tem...

Ah!, mas hoje eu sei que não basta apenas uma nova idéia, é preciso consciência e atitude pra não restar em casa apenas rezando por Deus e contando o vil metal até o fim de nossos dias.

E lembre-se: muitas vezes dói perceber que mesmo em face de tudo que fizemos, já não somos os mesmos, e nem sempre teremos... nós já não somos os mesmos, e nem sempre teremos... tenha certeza meu filho, que nos já não somos os mesmos e teremos vivos os nossos queridos pais.

Que vocês, nossos filhos, tenham sempre presentes os pais ricos (em amor) e mães maravilhosas.

Saúde, paz, amor e harmonia.

P.S.- Aos nossos descendentes merecedores do nosso incomparável ágape, e in memmoriam de minha mãe, tão merecedora quanto.