quarta-feira, novembro 16, 2011

O Ó DO BOROGODÓ

Nacredito, parem o mundo que eu quero descer, e olha que eu nem peguei o bonde andando, mas sentei na “janelinha”.

Antes que eu comece a enumerar ou explanar da pertinência da expressão “o ó do borogodó”, vamos tentar, sem ser lá muito prolixo, ou pouco claro, “traduzir” a expressão que, não sei a que cargas d’água venho usando e, vez ou outra, topando na internet.

Logo de cara posso dizer que essa expressão é mais uma daquelas que pode significar muito, usando pouco mais que meia dúzia de consoantes (na verdade apenas 5) e outra dúzia (e aqui, na verdade 7) vogais “O”, e apenas dois míseros acentos agudos. Pronto, já falei da parte gramatical da coisa, vamos agora aos fatos e significados, semânticos e literais, se é que os existem.

Se o dicionário era dito antigamente como o “pais dos burros”, fui procurar na “mãe dos burros”, ou seja, na internet sobre isso, e percebi que existem sites e bares em sampa, e até uma grife de roupas, usando a expressão, até uma piada, aquela dos caras presos pelos índios, que devem escolher entre “morte e borogodó”, mas isso são outras coisas. O que ora nos interessa é o significado do “ó do borogodó”.

Para os mais “letrados”, tem até escritor “Em busca do borogodó perdido” (Joaquim F. dos Santos, ) em plena cidade maravilhosa. Se o cara ainda não achou por lá, que dizer destas bandas?

Então, como diria o esquartejador, “vamos por partes”: a vogal “O”, pertinentemente acentuada, soando “Ó”, me parece indicar direção ou lugar, ou ainda, em uma segunda análise, qualidade de algo que deve soar como “coisa vaga”, até porque o “O” tem forma redonda com um furo no meio. Ou o “Ó” é espécie de abreviação de “olha esse lugar”, “ou isso”, ou ainda, de melhor sorte, é designação daquilo que na matemática conhecemos como o grupo vazio (Ø).

Esclarecido o significado do “Ó”, vamos agora ao famigerado “borogodó”. Para muitos, “borogodó” pode simplesmente significar “borogodó”, assim como pro mineiro “trem” é “trem”, e não um veículo férreo, como para outros desavisados parece ser. Afinal “trem é trem”, assim como “uai é uai”, uai sô!

Vendo que a internet fora apenas exemplificativa quanto à palavra “borogodó”, fui lá e procurei no dicionário e achei uma palavra semelhante, ou variação, sei lá. Achei o vocábulo “borocotó”, sendo um substantivo masculino, que indica terreno escabroso, cheio de altos e baixos. O tal do “ó do borogodó” também pode ser algo cheio de altos e baixos, escabroso, cheio de obstáculos. É, deve ser isso então, “borogodó” pode ser uma dissidência de “borocotó”.

Falando em termos populares, lembrei daquele filme nacional, o tal do “Ó pá i ó”, mas deixa isso pra lá, apesar do filme passar-se lá no “ó do borogodó” da Bahia, estamos a falar de outra coisa. Nacredito, olhaí, já apareceu um bom exemplo de quando se usar a tal da expressão malograda: designação de lugar longínquo ou desconhecido. É isso aí, “o ó do borogodó” pode muito bem ser usado para se designar lugar que é desconhecido por nós, ou ainda, um lugar muito longe da onde ora nos reportamos, o que alguns identificam com o tal do lugar onde “o Judas perdeu as botas”. Afinal, onde o “Judas perdeu as botas”? Of course, no “ó do borogodó”, e estamos explicados.

Mas o termo “ó do borogodó” poder ser usado ainda para identificar uma coisa sem cabimento, tipo “as atuais lambanças do governo federal são o ó do borogodó”, ou ainda, e no mesmo sentido literal, a situação do Brasil anda a caminho do “ó do borogodó”, e aí tanto faz se falar em indicação de distância, ou seja, ao caminho que as coisas rumam, ou à situação de caos instalada deste outros “Fernandos” e agora agravada. De contrario senso, “o ó do borogodó” pode ainda indicar algo mais prazeroso, tipo: “aquela feijoada estava do ó do borogodó”, e aí damos o devido valor às miudezas do porco regadas a boa porções de feijão preto, couve e caipirinha, indo por terra toda aquela estória do grupo vazio e da coisa vaga.

Nacredito, mas, analisando mais atentamente a expressão “o ó do borogodó” me veio um estalo. Será que a expressão na verdade quer apenas fazer destaque à última vogal da palavra borogodó? Raciocinem comigo: “o ó do borogodó” é na verdade nada mais uma tentativa de se dar destaque à ultima vogal, ou se preferirem, o último caractere da palavra borogodó. Logo, o tal do “ó do borogodó” quer indicar o final da palavra, o último “O”, do borogodó, embora acentuado. Mais precisamente, e analogicamente falando, quer indicar o final de algo, como também nos deparamos quando usamos a expressão “o fim da picada”, que na verdade parece indicar o que acontece no final da picada, ou seja, ou a dor ou a morte. Será que “o ó do borogodó” é sinônimo de “o fim da picada”? Será isso?

É, pode até ser, ou pode ser ainda uma referencia de algo supremo, que fica no final, e acima de tudo, e aí cai por terra a tal da teoria da morte. Isso, fica bem melhor achar que pode ser um estado superior, o tal do “ó do borogodó” pode ser algo como o supra-sumo de alguma coisa, que pode tanto ser usado para se elogiar algo, ou ainda para se fazer pouco caso. Ah, então ta!

E não concluindo, se bom ou ruim seu significado, o certo apenas é a satisfação de se usar esta exmpressão vez ou outr

- Isso ou aquilo são o “ó do borogodó”! E tenho dito!

segunda-feira, novembro 14, 2011

MINUTOS COM O SAPO DÓRIA
(conselhos de um sapo filósofo)
(Once upon the time...)
Havia um grande sapo que vivia na lagoa. Vivia a filosofar na lagoa dia após dia, tarde após tarde, mosca após mosca, tendo apenas os outros bichos da floresta para interagir com seus conselhos e descobertas após anos de sol e lua e companhia certa de uma Vitória-Régia qualquer.

Entre um e outro ataque de sua língua gosmenta a este ou aquele inseto, ficava a devanear sobre as dúvidas essenciais inerentes à humanidade, e vez ou outra questionava o que fazia ele naquele corpo de anuro a coaxar, se era dotado de intelecto, mas quase sempre acabara por concluir que a mesma dúvida talvez incidisse sobre os seres humanos, ou seja, o que faziam os homens e mulheres em corpos humanos se eram verdadeiros animais primitivos? E logo confortava-se em estar naquele lugar, mesmo com suas dúvidas cartesianas em meio às taboas do brejo.

É claro, muitos animais tinham por ele respeito tamanho, e era comum vê-lo a dar conselhos como se em verdadeira terapia, com seus ensinamentos freudianos e dorianos.

Segundo sua linha própria de raciocínio, gostava de comparar os animais e seus acontecimentos com acontecimentos típicos de seres humanos, mostrando onde estes viviam a errar nos atos mais corriqueiros do dia-a-dia, e desta feita tecia verdadeiro tratado de como os animais deviam conviver entre si, para nunca chegarem ao ponto “evolutivo” que a raça humana havia chegado.

Em tempo, suas teorias sobre evolução eram apocalípticas, ou seja, mostravam que a evolução das espécies, principalmente a humana, tinham como ponto final sempre o extermínio da mesma, e ilustrava com exemplos e sinais todos esses ensinamentos.

Tinha um senso de convencimento como poucos, diria até shakesperiano, sendo persuasivo até aos animais de instintos mais apurados. Diziam, à miúde, na floresta, que “não havia problema que o Sapo Dória não resolvesse, e que haviam conselhos outros que as vezes não deviam ser de todo seguidos”. Conjecturavam ainda sobre um possível entorpecimento do sapiente Sapo Dória, que é como ela gostava de ser chamado, através de uma certa plantinha que ele costumava valer-se sempre aos finais de tarde, acompanhado de uma grande e vistosa varejeira verde, mais isso ninguém nunca provara, e, trocadilhos à parte, quem dizia isso também sequer houvera provado do gosto e torpeza destes ingredientes.

Havia um grande sapo que vivia na lagoa. Vivia a filosofar na lagoa tarde após tarde, noite após noite, mosca após mosca, e isso é tudo que se sabe sobre este oráculo da floresta, que levava a graça de Sapo Dória, e o que mais se falar sobre ele é tudo especulação, e, ademais, seus conselhos. Até hoje não se sabe ao certo quais informações são uma, quais são os outros.

E, como ele próprio profetizava em “mantra” sagrado: “Todo grande sapo pensador é o estúpido anuro de um outro tolo qualquer”.